tornadoMais de um em cada cinco municípios brasileiros (quase 22% deles), está com situação de emergência ou de calamidade pública reconhecida pelo governo federal. A Folha teve acesso a dados atualizados até a última segunda-feira (27). No total, 1.206 cidades do país tiveram esse tipo de condição reconhecido pelo Ministério da Integração Nacional. A grande maioria delas por conta da estiagem (período intermediário sem chuvas), que afetou 707 municípios, ou da seca (período prolongado sem chuvas), um drama vivido por 358 cidades.

Os desastres causados por excesso de chuvas, ventos fortes e até granizo atingiram outros 141 municípios no Brasil. Alguns dos mais recentes dos chamados eventos climáticos extremos atingiram os Estados da região Sul, incluindo um tornado em Francisco Beltrão (PR), a 386 km de Curitiba. “A frequência de eventos climáticos extremos está aumentando no mundo todo”, explica o especialista em física atmosférica, Paulo Artaxo. “Nós observamos, sim, um crescimento muito significativo na frequência e na intensidade deles. Isso está acontecendo no Brasil, nos Estados Unidos, na África, na Europa, e são dados muito sólidos”, acrescenta.

Para o cientista, “o país, como um todo, tem que se preparar para lidar com essa questão”. Artaxo atribui a tendência de aumento nos desastres naturais ao aquecimento global. Nesse sentido, um relatório da agência norte-americana NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA), divulgado na terça-feira (21) apontou que o mês de junho deste ano foi o mais quente desde o fim do século 19 e o ano de 2015 deve ser o mais quente no mesmo período.

ACIMA DA MÉDIA – O número de cidades brasileiras atingidas por esses fenômenos, somente nos sete primeiros meses deste ano, já é quase igual ao da média histórica. Na série iniciada em 2003, em média 1.416 municípios tem situação de emergência ou calamidade pública reconhecida pela União. Contudo, de 2010 para cá, apenas em 2011 o número de cidades classificadas em uma dessas duas condições foi menor que esse índice. No primeiro ano da década, foram 1.912 municípios afetados por ventos climáticos extremos. Em 2014, esse número foi de 1.886. O cenário mais catastrófico foi o do ano de 2012, com 2.342 municípios em emergência ou calamidade, ou 42% dos 5.570 municípios brasileiros.

IMPACTO FINANCEIRO – Talvez por conta desse histórico recente, o Ministério da Integração Nacional reforçou as ações para atender as regiões afetadas pelos extremos climáticos, desde 2012. Com relação à seca e à estiagem, o órgão federal, “de março de 2012 a junho de 2015, já foram investidos pelo Ministério da Integração Nacional um total de R$ 2,4 bilhões na ‘Operação Carro-Pipa’. De janeiro a junho de 2015, foram investidos R$ 532 milhões no programa”. O ministério informou que também fez parceria com Estados atingidos pela falta de chuvas para perfurar 1.539 poços. Quanto aos casos recentes de devastação por temporais no Sul do país, o governo federal anunciou nesta quinta-feira que destinará R$ 2 milhões em ajuda humanitária. Contudo, segundo apurou a Folha, municípios do Rio Grande do Sul, atingidos pelas chuvas no ano passado, ainda não receberam verbas prometidas pela União, mesmo passados doze meses do anúncio.

folhaNORDESTE É O MAIS AFETADO – A falta de água que ameaça São Paulo, já provocou situações de emergência ou calamidade pública em 949 municípios do Nordeste em 2015. Outros oito municípios da região também sofreram com outros eventos climáticos extremos, tais como inundações, especialmente na Bahia. O recordista nacional em decretos desse tipo é o Estado da Paraíba, com 197 reconhecimentos federais de emergência ou calamidade. Piauí e Rio Grande do Norte aparecem em segundo lugar, com 153 reconhecimentos cada. No total, sete Estados nordestinos integram a lista de dez mais afetados por eventos climáticos extremos no Brasil.

Fonte: Folha de S.Paulo
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